sábado, 19 de abril de 2008

O CANTOR ESTAVA A BORDO

Quando eu e minha esposa viajamos para Belo Horizonte, em Novembro de 2007, fizemos uma conexão em Brasília, permanecendo no aeroporto de lá por cerca de trinta minutos. Estávamos um pouco estressados em virtude da monotonia do vôo demorado e por causa do atendimento nada vip proporcionado aos passageiros. Durante o trajeto inteiro duas aeromoças sisudas só nos serviram – imaginem só! – alguns bombons com gordura trans(eu li os ingredientes e estava registrada a quantidade no rótulo da embalagem, por isso pude comprovar) ao início da viagem, depois, lá pelas tantas, passaram pelo corredor do avião empurrando o manjado carrinho com refrigerantes, suco de laranja industrializado que tinha o horrível - blagh! – gosto de remédio barato, água, café que sabia a algo indefinido e um pãozinho cujo recheio quase não se via de tão ínfimo. Esperávamos assistir a qualquer filme passatempo nos diversos monitores pendurados sobre os assentos, mas durante o percurso todo o que tivemos foram comerciais enfadonhos e cansativos da empresa aérea. Como eu não levei nenhum livro para ler devido ao corre-corre dos preparativos, de maneira que esqueci desse acessório essencial, contentei-me com a relativamente mediana revista de bordo para não morrer de tédio. Dá para imaginar, assim, a intensidade do estresse que me envenenava de adrenalina.
Desembarcamos na capital do Distrito Federal para mudar de aeronave, a tal da conexão. O aeroporto estava lotado de deputados e senadores em grupinhos falando à boca pequena. Naquele momento muitas decisões que afetariam nossos destinos e de nossa Pátria estavam em andamento. Seria? Talvez, claro. José Jenuíno, com seu visual de ator tupiniquim, sentado com a perna direita cruzada sobre a esquerda, chamou minha atenção porque seu séqüito ria muito quando ele falava alguma coisa, por razões que desconheço. Nunca tínhamos visto tantos parlamentares amontoados – o local parecia pequeno para tanta gente – em um só lugar, nem mesmo no Congresso. Era a revoada de fim de semana, creio. Mas uma figura nada política despertou meu interesse por sua simplicidade em meio à multidão, mesmo sendo famoso no país inteiro: Zezé de Camargo. Chapéu de cowboy à brasileira, calça jeans e camisa sem estardalhaço, óculos escuros, ria descontraído enquanto conversava com um senhor ao seu lado. Percebi que ninguém o estava assediando, ele se mostrava à vontade, sem seguranças pude perceber, parecendo um cidadão anônimo como qualquer de nós. Sua tranqüilidade e descontração apesar de encontrar-se entre centenas de pessoas em derredor, muitas delas certamente seus admiradores, nem de longe lembrava aquelas cenas de fãs se esgoelando e chorando para chegar perto de seu ídolo mas impedidas pelos guarda-roupas que o protegiam. E isso fazia dele tão-somente o ser humano trabalhador comum igual a seus semelhantes, embora seja carismático cantor de multidões. Pouquíssimos circunstantes foram até lá e pediram para ser fotografados com ele, mas tudo com a maior naturalidade, sem atropelos. E Zezé de Camargo continuou na maior calma onde estava à medida que o tempo passava e os transeuntes circulavam para lá e para cá preocupados com seus horários.
Quando já estávamos a bordo do avião, e nem há necessidade de registrar o ruge-ruge usual e o estresse para atingir esse final feliz porque quem já passou ou passa por isso sabe muito bem como é – ufa! –, quem vejo adentrar a bordo à guisa de um passageiro sofredor comum? Ele mesmo: Zezé de Camargo. Acompanhava-o apenas outro homem, com quem conversava animadamente. Tomaram seus assentos normalmente e lá permaneceram aguardando a decolagem. Não vi Luciano em nenhum momento, é provável que não estivesse com o irmão no mesmo vôo. No momento em que cortávamos as nuvens carregadas sobre Brasília, tendo o avião estabilizado sobre o incomensurável espaço aéreo, vi a aeromoça entregar a Zezé de Camargo, depois dos miseráveis bombons com gordura trans, um pãozinho massa fina com o indefectível recheio invisível, do mesmo tipo que logo depois entregou também para mim, minha esposa e demais passageiros do avião. Achei muito estranho não só o fato em si, mas fiquei a perguntar-me se Zezé de Camargo não tem seu próprio avião para deslocar-se Brasil afora com a rapidez que o seu trabalho exige. Ao aterrissarmos, ele também desceu em Belo Horizonte juntamente conosco, onde ficou para fazer dois shows( eu vi o anúncio no dia seguinte ao passar defronte ao Chevrolet Hall).

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