sábado, 21 de junho de 2008

CORDEL DESEMBESTADO

Eu meio que hesito tanto
para escrever um cordel,
fico trocando as palavras
misturo queijo com mel,
faço uma baita farofa
com pedaços de papel
*
Um folha verde farfalha
enquanto a brisa sussurra,
a cabra paquera o touro
mas da vaca leva surra
e o meu cordel nem se toca
quando ao longe a onça urra
*
Galopa o cavalo malhado
na pradaria encantada,
o carro velho resfolega
numa rua esburacada
mas as rimas não descubro
p'ra essa poesia danada
*
O dedo todo enfiado
no buraco do nariz,
passa o cara aloprado
chupando bala de anis
e eu fico embatucado
porque meu cordel não fiz
*
Que é dos versos perfeitos,
cadê minha inspiração,
os vocábulos se perderam
nos templos da ilusão?
Decerto meu cordel morreu
pelas sendas do coração
*
No pobre sertão tem seca
porém no Sul tem geada,
vejo o vaqueiro levando
aos berros a sua boiada,
mas o meu cordel parece
sinfonia inacabada
*
Nem lendo no dicionário
descubro como rimar,
os termos se me embaralham
talvez seja melhor parar
ora, se eu nem comecei
não posso o cordel terminar
*
Já vi que não vou conseguir
sou um poeta sem jeito,
se quero rimar político
vem logo o termo prefeito,
mas se pretendo um cordel
nasce um texto com defeito
*
Tenho muito que aprender
com o mestre Patativa,
lendo toda sua obra
fazendo nova tentativa,
porque p'ra fazer cordel
com talento e precisão
não é coisa relativa
*
Contudo, nem quero saber
quantos paus tem a canoa,
jogo p'ra cima as palavras
tentando uma rima boa,
e caso o meu cordel não brote
faço ao menos uma loa

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