terça-feira, 2 de setembro de 2008

CRÔNICA DE UMA VIAGEM - III

O ruidoso grupo comandado por diversos monitores de empresas de turismo, que formava aquela sinuosa fila amontoada de malas, pacotes e bugingangas, certamente havia decolado na trilha dos seus respectivos destinos quando regressamos ao aeroporto. Como nossa bagagem já tinha sido despachada após o chek in, restando somente saber se haviam resolvido o impasse do traslado de Porto Alegre até Gramado, dirigi-me ao galpão da T... Informaram-me que desde o momento em que fomos para o hotel eles tentavam se comunicar, sempre em vão, com a responsável pelo traslado, por conseguinte isso ainda não estava definido. Continuariam objetivando equacionar o entrave, disseram, nós fôssemos para o Rio Grande do Sul e até chegarmos lá, provavelmente, tudo se resolveria a contento enquanto isso. "Dará tudo certo, não se preocupe", garantiu-me a solícita gerente de plantão. Que remédio!Quando o avião finalmente decolou o alvorecer enchia o horizonte de cores fracas pinceladas por invisíveis mãos ainda preguiçosas. Nossa primeira escala seria em Brasília. Graças a Deus alcançamos o céu em poucos segundos e logo deslizávamos pelas nuvens serenamente, cortando seus flocos algodoados com respingos de gotículas do sol já despertando aos bocejos paulatinos. Colocamos fone de ouvido para ouvir algum dos canais de música à disposição, abrimos a revista de bordo e nos deixamos levar pela impensável leveza da mastodonte aeronave voando como um imenso pássaro prateado assustando o amanhecer. Socorro!, nós nos encontrávamos a mais de onze mil metros de altura e a uma velocidade de mil e cem quilômetros por hora. O comandante deu-nos as boas vindas, fêz gracinhas com a temperatura em Brasília, nosso primeiro destino, depois os mini terminais de tv acoplados ao teto do avião se deslocaram ficando em posição vertical e começou a velha e conhecida baboseira de explicar-nos o uso das máscara de oxigênio e exibir-nos as portas de emergência, o saco de sempre. Afundei na poltrona.O aeroporto de Brasília fervilhava, e o pior é que os vôos por lá também estavam atrasados. Estudantes, jogadores de diversas modalidades esportivas, políticas, gente usando paletó e calça jeans, rindo, lendo, conversando, insatisfeita, enfim, aquele humanológico característico desses locais onde se aglomeram centenas de pessoas buscando seus rumos. Ninguém sabia a que horas nosso vôo para Porto Alegre iria se concretizar. Perambulamos pelas imediações, anotamos fatos engraçados e/ou interessantes, conversamos, fizemos planos, devaneamos e tornamos a passear vendo os ônibus levando e trazendo passageiros que iam e vinham. E lá estava ele novamente! Quem? O furioso gaúcho, claro, aquele que embarcou conosco indo também para a capital do Sul. Ainda tentamos nos esconder dele, mas não adiantou, fomos vistos. Carrancudo como antes no aeroporto de Natal, brandindo seu cartão de embarque furiosamente, já veio ao nosso encontro explodindo frases de descompostura contra o caos aéreo, as companhias de aviação e seus responsáveis, sem nos dar chance de responder ou dizer algo. Quando ele virou o rosto e apontou para os diversos portões de embarque falando qualquer coisa sobre desinformação nós aproveitamos para desaparecer de sua presença, rindo da cara dele e de nosso comportamento levado.Mas os minutos se foram, formaram horas e nada. Quanto mais ônibus saíam do salão de embarque lotados na direção da pista onde se encontravam os aviões mais gente ia chegando e abarrotando o espaço. Por mais três vezes o gaúcho nos avistou e fez menção de se aproximar, mas dávamos sempre um jeito de escapar dele feito crianças brincando de esconde-esconde. E nesse comportamento lúdico percebíamos que muitos circunstantes até dormitavam pelos cantos enquanto lentamente o tempo andava. Difícil dizer as razões de tanto atraso. Seria porque havia passageiros demais ou aviões de menos? Por fim, anunciaram nosso vôo e saímos correndo juntamente com uma multidão até o portão de acesso ao transporte coletivo. Conseguimos dois lugares a duras penas após enfrentar uma fila horrorosa e os caras-de-pau dando jeitinhos para furá-la. Estacionamos ao lado do avião, todos descendo apressados para embarcar o mais rápido possível sob um sol escaldante ladeado de ralas nuvens esboroantes.

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