quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CRÔNICA DE UMA VIAGEM - Parte 4

Porto Alegre do alto, quando estávamos prestes a pousar em seu aeroporto(Foto de Gilbamar)


Um cara grandalhão, o aspecto de gigante que esqueceu de parar de crescer, se abancara na primeira poltrona ao lado das nossas. Pedimos licença, ele levantou e, de tão alta estatura, quase bateu a cabeça no teto do avião. Fiquei na cadeira do meio, à direita a ternura de minha esposa, à esquerda o homenzarrão a tomar-me os espaços das pernas e dos braços e forçando-me a permanecer encolhido a viagem toda. Soube depois, no momento do pouso, tratar-se do treinador do de um time de futebol de Porto Alegre. Os jogadores e demais membros da trupe estavam espalhados ao longo das poltronas misturadas, entre eles e em meio ao outros passageiros. De vez em quando o cara se voltava para um deles sentado do outro do corredor e conversavam aos risos extravasados. Lá pelas tantas ele adormeceu e se espalhou todo. Imagine alguém com provavelmente dois metros de altura sendo obrigado a dormir sentado sem ter onde distribuir a arrogância do seu tamanho descomunal e ainda procurar não incomodar quem é levado pelas circunstâncias a sentar-se na cadeira colada à dele. Depois pense no nano homem nas asas desse instante e pasme! Pus um travesseiro entre mim e ele, para divisar território, e debrucei-me sobre minha direita aconchegando-me ao abraço da minha esposa. Não foi novidade a aeromoça passar pelo corredor, toda serelepe, distribuindo balinhas numa cumbuca, atenta a quantas cada um colhia na sua vez. Um tempo adiante, sanduíche frio, suco de laranja com gosto de remédio e refrigerantes. Serviço de bordo, alegam. Tais serviços foram bem melhores e mais decentes outrora, então jantar tinha gosto, aspecto e jeito de jantar. De igual modo almoço e café da manhã nos trajetos antes do amanhecer. Boas recordações de bons tempos que, é duro reconhecer, jamais retornarão certamente.O tédio prosseguiu no ar ao som nada melodioso das turbinas roncando sonoras bem ao pé das nossas orelhas. Além disso, súbito e inesperado, o espirro estrondoso do camarada à esquerda estourou no precípuo momento em que eu recebia da jovem aeromoça um copo com água. Fitei os olhos de Ana, decaindo os meus. Desisti de saciar a sede. Quanto tormento! Seria ótimo se os aviões voassem à velocidade da luz, assim não ficaríamos confinados longas horas feito sardinhas com tantos universos mentais e comportamentais difusos e multifacetados. De quebra, num rápido segundo estaríamos aterrissando em nosso destino, ilesos e felizes. Suspirei aliviado ao ouvir o comandante anunciar que em pouco pousaríamos no Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre. Ufa, nosso passeio, por fim, prenunciava a possibilidade de estar prestes a ser iniciado. Ah!, e somente eu e minha esposa, longe das multidões, dos cigarros e das turbinas barulhentas

Nenhum comentário: