quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CRÔNICA DE UMA VIAGEM - Parte 7

Estava escrito no pórtico da cidade: "BEM VINDO AO 36º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO" Após 17 horas entre vôo cancelado, descanso provisório na espelunca chamada hotel, inserção em outro vôo, longa espera nos saguões e nas salas de embarque, percurso de avião, conexão, novo percurso aéreo, chegada a Porto Alegre e, enfim, o trajeto no microônibus, uau!, eis que lográvamos chegar ao nosso destino. O ocaso já se achegava para cobrir o dia com o véu da noite, porém o sol ainda insistia em realçar seu brilho no alto da serras e imiscuir-se por entre as folhas e os galhos do arvoredo ladeando a estrada-tapete-negro, e me era dado apreciar o lindo entardecer amortecendo e se debatendo em seus últimos minutos. Essa batalha pela sobrevivência da claridade contra a vinda implacável da sombra noturna proporcionava o belíssimo espetáculo do pôr-do-sol se deixando ver em toda plenitude. Morrendo no Ocidente ao sabor de nosso deleite, nascia no Oriente para mais um amanhecer.
E Ali finalmente estávamos nós assistindo a essa mutação de encantar almas e corações, agora adentrando mais uma vez as plagas gramadenses, tão ansiosos como na primeira vez, desta feita para ver de perto, repito, in loco(gosto dessas palavras em latim!), os acontecimentos marcantes e inesquecíveis do Festival de Cinema. E revelou-se-me impossível não ser vencido pelo doce tilintar emocional das lembranças de minha adolescência, quando lia entusiasmado a respeito das estrelas do cinema e da tv reunidas e desfilando pelas ruas e restaurantes da cidade nos festivais de cinema dos primórdios. Pensando como seria tudo aquilo, esse glamour, esse desfile de beleza e talento, a pequena cidade do Sul tornando-se a capital do cinema, o centro das atenções cinematográficas. Eu poderia um dia estar em gramado vendo toda essa festa, talvez? Meus sonhos envolveram-se com essa idéia acalentando o anelo de concretizá-la. À época a imaginação devaneava sobre como seria tal movimentação e suas manifestações nesse período. Eu não sabia que os grandes sonhos nos acompanham a vida inteira até que alguns se tornem realidade.Tudo em Gramado se revelava orgulhosamente lindo com a fantástica decoração temática do cinema.
À entrada da cidade, que respirava o maravilhoso ar da fantasia tão presente na sétima arte, já se viam os vários motivos representativos do evento. Kikitos, as estatuetas que são o símbolo do festival, pululavam espalhados nos quatro cantos de ruas e avenidas secundando desenhos de rolos de filmes estrategicamente colocados em cada esquina e praça.Percebi palpáveis os sorrisos estampados nos rostos de quantos íamos encontrando a caminho do hotel. Ao passarmos rapidamente, ao longe, pela Borges de Medeiros, palco do ápice da festa, avistamos grande fluxo de pessoas circulando com seus casacos, gorros e sobretudos, dando um grandioso toque de refinada elegância. De outra maneira não poderia ser, afinal faltavam poucas horas para a abertura do festival. Eu não conseguia segurar o deslumbre do meu coração, minha esposa apertava-me a mão emocionada e sorríamos como a petizada numa festa de aniversário. Nem parecia que aquela era nossa terceira viagem a Gramado.

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