segunda-feira, 20 de abril de 2009

FLASHES EUROPEUS

A rodovia Lisboa-Espanha com seu asfalto igual a um tapete persa


As cidades portuguesas e a espanhola visitadas por nós nessa viagem à Europa proporcionaram aos nossos olhos e corações imagens e registros a perenizarem-se n'alma e se fazerem presentes constantemente nas recordações e nas fotos. À medida que os surpreendentes espetáculos desfilavam ante nossos olhos eu ia freneticamente anotando para não esquecer nenhum detalhe ou pormenor, embora muita coisa se perca porque há tanto para ver e admirar e tão pouco tempo para tudo. Afinal de contas, outras paragens visitadas têm sempre algo novo em profusão e espetáculos de beleza e encantamento que, de tão fascinantes, nos embriagam ao ponto de esquecermos ou não termos condições de registrar cada ponto em notas ou em instantâneos.

Peregrinos a pé chegando à Catedral de Santiago de Compostela


Já em solo espanhol, em frente à Catedral de Santiago de Compostela assistimos à chegada de vários peregrinos que fizeram, a pé, o famoso caminho de Santiago, todos felizes sob o peso da bagagem nas costas, o enorme cajado na mão direita, cabaça e concha penduradas como alforjes, os rostos curtidos pelos dias de sol e chuva. Abraçavam-se entre si sorridentes como crianças entusiasmadas e corriam satisfeitos na direção da Catedral, os braços entreabertos, alguns chorando, e muitos deles chorando e rindo ao mesmo tempo. A cena tocante emocionava como se estivéssemos assistindo a um filme dramático. Quase senti descer-me a face a lágrima atrevida que tentei sufocar enquanto pensava que somente uma grande força de vontade aliada à fé capaz de erguer montanhas poderiam sustentar o esforço desses andarilhos em caminhar dias e dias sob o frio, a chuva e o sol, além do desconforto, da sede e da fome para, depois de tantas vicissitudes, visitar o túmulo de São Tiago e abraçar seu busto em orações. O objetivo alcançado parecia dar-lhes ao rosto aquele irrefutável ar de êxtase não encontrado em outras situações.

Sob a chuva, em frente à Catedral de Santiago

Ao voltarmos do almoço, fazendo malabarismos para fugir da chuva insistente e molhadeira naquele entardecer sombrio que bem poderia estar ensolarado em Santiago, algumas vezes fazendo paradas apressadas para bater fotos quando o aguaceiro amainava, escutamos, ao longe, o barulho característico dos grupos de estudantes da universidade de Santiago entoando suas canções em altos brados. Conhecidos por formarem conjuntos musicais denominados Tuna de Santiago de Compostela e venderem suas gravações enquanto cantam nas igrejas da cidade, arrebanhavam turistas que passavam nas imediações e entoavam suas músicas em alto e bom som. Ainda quisemos ir até lá para apreciar sua arte mas razões adversas, mormente a chuva, não nos permitiram.

A chuva caindo em Santiago da Compostela

Tão-logo pusemos os pés na Espanha, experimentamos a famosa torta de santiago sabor amêndoa com a bela cruz estilizada tão característica, devoramos os pãezinhos recheados de manteiga e mel e bolachas tanto de amêndoa quanto de outras gostosuras, produtos estes vendidos a peso de ouro e em euros por uma senhora galega que falava apressada e enrolada em três idiomas, francês, português de Portugal e o dialeto da Galícia. De cara, à nossa chegada em seu estabelecimento, como não conseguíamos compreendê-la, perguntou-me "Parlez vous Français(você fala francês)?", e eu, em não sabendo, respondi-lhe em inglês "I d'ont speake french, only english(não falo francês, somente inglês)", recebendo como réplica um balançar de cabeça a determinar incompreensão e o jorrar de palavras arrevesadas na língua de Lisboa. A partir de então, de modo cangueiro porém razoável, logramos nos entender e foi possível experimentar o delicioso pão de mel que nos vendeu por um preço absurdo.

Compramos, como sempre fazemos em nossas viagens, imãs de geladeira nas cidades de Santiago de Compostela, Fátima, Sintra e Lisboa, não tendo sido possível, porém, encontrar tal artigo nem em Coimbra nem em Porto(os amigos dessas cidades portuguesas teriam como enviar-me um imã artesanal representando o cartão postal de cada uma dessas cidades?). Esses objetos do universo artesanato das localidades por onde passamos, juntamente com as fotos dos pontos mais interessantes e as anotações feitas ao longo da viagem, compõem o conjunto de recordações desses passeios maravilhosos realizados por mim e minha esposa durante o ano.


Quando voltávamos de Porto para Lisboa, por volta das dez horas, horário de Portugal(no Brasil ainda eram seis da manhã!), revendo a bela paisagem às margens da auto-estrada, a guia que nos ciceroneava durante quase todos os momentos da viagem nos mostrou formações inusitadas sobre os postes de energia elétrica, à nossa direita, dizendo tratar-se dos malabarismos impressionantes feitos pela fauna portuguesa, pois aquilo se tratava, imaginem só, de nada mais, nada menos, que moradia de cegonhas. Isso mesmo, olhamos na direção por ela apontada e nos deparamos com enormes ninhos dessas fantásticas aves que povoaram os contos de fada de antigamente. Encarapitados nos altos postes e na grande extensão da estrada, se bem que um pouco afastados desta, a grande quantidade de ninhos fez o enternecimento dos viajantes, todos fascinados ante a inigualável novidade. No céu, como pequenos aeroplanos tranquilos sobrevoando o espaço, algumas dessas formidáveis aves deslizavam com graciosidade e absoluta segurança, deixando no ar o fascínio de sua elegância, o encanto de seu charme e a leveza de seu vôo descontraído. Não sendo percebido por ninguém, sorri todo satisfeito e emocionado parecendo um menino ante a descoberta de notável tesouro.Testemunhar o vôo de cegonhas no espaço aéreo português e ver-lhes os ninhos foi mais um espetáculo diferente a merecer destaque especial em meus alfarrábios.


Os olivais e os parreirais espalhados como tapete sobre montanhas e serras foram outra bela manifestação da natureza para os nossos olhos, e bem assim também os sobreiros de onde são tiradas as cascas com as quais são feitas as famosas cortiças, os lindos pinheiros verdejantes e os eucaliptos altos povoando e pintando de verde as margens da estrada ao longo do caminho e procurando espaço entre as outras árvores, tudo passava à nossa frente como paisagem nova a plantar o enternecimento no coração deslumbrado.


O pombinho desprovido da patinha esquerda

E presenciamos também, estivemos pertinho dele, fotografando-o inclusive, um certo pombinho diferente e esquisito, que tinha a patinha esquerda amputada. Foi estranho para nós encontrar o bichinho com uma só pata a mancar pelo chão atrás de sua turma alvoroçada. Meio angustiados, ficamos nos perguntando quem teria feito tamanha maldade na pobre ave, ou se aquilo aconteceu na luta pela sobrevivência com algum predador. Difícil imaginar, impossível saber como aquilo aconteceu. Ele chegou de repente no meio de nós, junto com tantos outros em revoada, claudicando ao pousar e tentar andar, mancando coitadinho mas ainda assim bicando o chão na busca do alimento disputado também por seus iguais cujo estado físico se mostrava normal. Ana, embora com dó do pobre serzinho mutilado mas querendo guardar em foto aquele acontecimento inusitado, mirava-o à procura do melhor ângulo enquanto ele saltitava desajeitado procurando migalhas para comer. Houve um instante, contudo, em que ele pareceu perceber a intenção dela e, fazendo inesperada pose, permitiu ser fotografado. Depois, já imortalizado na foto, juntou-se aos companheiros e saiu a voar escondendo o defeito na leveza de seu glorioso vôo. No solo ele claudicava, no espaço, reinava.

A pose do pobre pombinho sem a pata esquerda

14 comentários:

Anônimo disse...

Me gusta viajar, y vosotros lo hacéis por mi, para regalarnos tantas palabras y fotos. Besos...

Anônimo disse...

Querido Amigo,terno o texto.
Quero votar no seu blog,pq. é justíssimo.Me diz o nº?
Vou tentar arranjar um imã para você.Sério.
Beijo para sua esposa e para si.
Abraço.
isa.

Cynthia disse...

besos muchos.
que tengas una linda semana.
cariños

Eu disse...

Querido Poeta...
Seu texto merece ser degustado como um bom vinho.
Vou ler e reler para absorver as riquezas que suas narram.
Tenha uma semana repleta de dádivas.
Deixo um beijo carinhoso

Carmen Conde Sedemiuqse disse...

Que bien. Gracias por tu visita.
besitos y amor
je

C3-PO disse...

Espero que a visita continue a valer bem a pena apesar do tempo! Beijinhos*

Liliana G. disse...

¡Qué placer compartir tus pasos! Nos traés un pedacito de mundo para que viajemos con la imaginación a encontrarnos con tus extaordinarios paisajes. ¡Gracias!
Un gran cariño.

Sonia Schmorantz disse...

“Nada há de mais poderoso que uma idéia
Que chegou no tempo certo.”
Victor Hugo

Tenha uma semana maravilhosa.
Abraço

Sônia

Ana Maria disse...

Obrigada por trazer
ricas imagens e belos conhecimentos.
Beijinhos no seu coração!

Anônimo disse...

Hola Gilbamar, paso a agradecerte tu visita y comentario en mi blog. Qué bonito viaje el de Santiago, yo lo tengo pendiente, quizás este verano. Las fotos maravillosas.

Saludos,
Rachel

La Gata Coqueta disse...

Es muy fuere la fotografía de la paloma con una sola pata y resiste que es existir sin más.

De eso se debían de da cuenta algunos de los humanos, que por una insignificancia ya renuncian a todo y lo ven negro, cuando es al reves hay que superarlo.

Me alegro que llevéis buen recuerdo de España, pena que os lloviese y estuviese el cielo tan oscuro...

Te regalo un beso y un rosa, para que su aroma perfume el aposento como recuerdo de este momento.

¡¡Feliz semana para todos!!

Gabiprog disse...

Una pena que la lluvia en Santiago tan Persistente... Pero allí arriba estas cosas ocurren.

¿Buena la tarta de almendras?

;-)

Un abrazo!

Gina disse...

A beleza independe do tempo ou da condição. Faça sol ou faça chuva, a catedral estava lá, linda, os peregrinos chegaram lá, extasiados! Com patinha ou sem patinha, lá estava a ave a mostrar sua capacidade de voar e ver o mundo de outro ângulo.
Lindo texto!
Um abraço.

Úrsula Avner disse...

Olá caro autor, belas postagens, belas imagens ! Meu carinho.