sábado, 18 de abril de 2009

NÓS NA EUROPA

Uma viagem ao Velho Mundo é sonho acalentado em muitos corações desde priscas eras, todos nós sabemos disso. Assim comigo foi, evidentemente. Só não tinha certeza se um dia qualquer da vida concretizaria essa quimera. Passou o tempo e o sonho continuou a ser acalentado enquanto o cotidiano prosseguia. Certo dia, quando passei no concurso promovido pelo Banco do Brasil, lá pelos idos de tantos anos atrás, já no meu inconsciente recrudescia esse incipiente desejo de, um dia, também sorver o ar europeu e deixar-me os olhos repletos das diferentes imagens jamais vistas antes. A Europa, ou parte dela, tornou-se, sabe-se lá desde quando, o sonho de consumo de grande parte dos brasileiros. Eu não fui exceção. Quando alguns amigos por lá andavam e ao retornar relatavam suas aventuras, diversões e conhecimentos, falando desse Primeiro Mundo com os olhos quase marejados de tanta emoção, fluía-me tanto o anelo de alcançar tamanha graça. Então fui semeando esse sonho ao longo de minha existência entre planos que se esvaíam e devaneios evanescentes.

Quando, por fim, chegou a grande oportunidade de, pelo menos, conhecer algumas cidades lusas e mais uma espanhola não titubeei nem pensei duas vezes. Cabia no meu orçamento o montante da despesa, minha esposa incentivou-me e eu, é lógico, mais do que tudo ansiava por esse momento. Fomos à agência de viagem que nos tinha enviado o e-mail-convite para adquirir o pacote e, como é óbvio, lá enfeitaram o bolo com as mais belas cores para encantar-nos. Não sem razão, afinal de contas faziam seu papel de sagaz vendedor. Só que tentaram de tudo para esquecer que o vôo charter no qual viajaríamos havia sido contratado por uma operadora de Salvador, na Bahia. Consequentemente, o avião já viria de lá com passageiros e não poderíamos saber quais seriam nossos lugares, arriscando, inclusive, a não ficar acomodado junto de minha esposa durante o trajeto. Isso, porém, somente descobri no dia da entrega dos vouchers, uma semana depois numa pretensa solenidade que, disso, não tinha nada. Parecia mais um corre-corre sem rumo, afora, ainda mais, a quase absoluta falta de informação sobre praticamente tudo relativo ao nosso vôo. Precisaríamos, explicaram-nos, chegar bem cedo ao aeroporto, umas quatro horas antes, para tentar conseguir viajar juntos, lado a lado. Imaginem!

Bom, já que era assim, procurei adaptar-me aos fatos para não enveredar pelos caminhos do estresse. Então, precavido, liguei um dia antes para a cooperativa de táxi contratando um deles para pegar-nos às sete horas da noite para levar-nos ao aeroporto onde faríamos o check in às oito e trinta. E o que aconteceu no dia da partida? Às sete horas em ponto estávamos nós no portão do nosso condomínio aguardando o táxi, esperançosos de vê-lo chegar a qualquer momento. Sete e dez, nada; sete e vinte, nada. Liguei uma vez para a cooperativa e a telefonista, aflita, garantiu-me que o motorista já estava a caminho; mas ele não chegava. Tornei a ligar e ela, apavorada, explicou que há muito o táxi saíra ao nosso encontro, o problema era o trânsito. Às sete e trinta, meio desesperado, ouvi o porteiro do condomínio dizendo que tinha um amigo taxista capaz de chegar bem ligeiro para levar-nos ao aeroporto. Nesse momento, ufa, pinta o tal do taxi na esquina na maior tranquilidade. Dei-lhe uma bronca, colocamos a bagagem na mala do carro e mandei-o enviar o pé na tábua.

E a odisséia para comprar euros? Qualquer um faria o que fiz na ocasião, isto é, esperar a queda da moeda européia para adquirí-la por um preço razoável, de maneira a aproveitar o melhor momento. Essa estratégia, no entanto, quase levou-me a ir para a Europa somente com os primeiros euros comprados dias antes, quando a moeda estava em relativa baixa, e mais o cartão de crédito, que inapelavelmente teria de usar. E isso, sem dúvida, encareceria ainda mais a viagem por conta das taxas e mais taxas cobradas pela operadora de cartão de crédito para fazer as transações. Por conseguinte, no dia do vôo para Portugal eu ainda siguezagueava pela cidade, de casa de câmbio em casa de câmbio, à procura de euros. Em vão. Nenhuma delas tinha a quantidade necessária ao número de pessoas prestes a viajar. E grande parte delas também perambulava à procura, ou praticamente todos porque precisaríamos deles para as compras e estadia de uma semana. Quando cheguei a determinada casa de câmbio, uma senhora, passageira do mesmo vôo parar Portugal, também ansiosa, estava comprando o cartão de crédito emitido pelo estabelecimento no valor em euros por ela pretendido, é claro, embutidas as infames taxas e encarecendo a aquisição. Cheguei a pensar que eles escondiam os euros para, no último momento, ante uma súbita alta na bolsa, vender-nos com gordos lucros. Depois de muitos altos e baixos, telefonemas, desabafos e prestes a apelar para o plano "b", que seria comprar num banco pagando taxas taxas ainda mais altas, finalmente uma casa de câmbio reservou-me a quantidade de euros de que eu necessitava, paguei o valor respectivo em reais e pude, afinal, suspirar aliviado por vencer mais essa etapa da viagem.

Ah!, Sabem quem eu encontrei na cabeça da fila do guichê da empresa aérea quando cheguei ao aeroporto? A dita senhora que havia comprado o cartão de crédito carregado com euros. Como era possível aquilo? Corri tanto para ser o primeiro a chegar. Mas ela também temia não ficar ao lado das amigas com quem viajaria, por isso pensou como eu em fazer plantão bem cedinho para ser a primeira no check in. E foi, a danada. Além dela, mais outras duas pessoas chegaram antes de mim. Nossa viagem de sete horas e trinta minutos rumo a Europa estava, agora, na iminência decomeçar.

17 comentários:

sebabaran disse...

Gilbamar, gracias por dejar un comentario en nuestro Blg (Cap. Buscapina). Siempre eres bienvenido en Buenos Aires. Asado is waiting for you again!
Hasta la proxima
S.

Vanessa Greenway disse...

Fico super contente em ver o quanto voce e sua esposa apreciaram esta viagem. A Europa e sem duvida nenhuma um lugar muito belo. Como voce mesmo disse o Velho Mundo... tem encantos maravilhosos... Um grande abraco, fiquem com Deus! Vanessa

Anônimo disse...

Meu querido Amigo,quem diria,ao ver o vosso ar sorridente e terno,
tudo aquilo por que tinham passado!
"Aventura em terras lusas"
Beijo.
isa.

Paula: pesponteando disse...

retribuindo a visita... Fico feliz com os elogios ao meu texto...é muito bom partilhar um pouco do que estudei... e do que construi durante a caminhada....volto depois com mais tempo para apreciar seu blog...bjs

Dany disse...

Andei um pouco sumida, mas retornei ao mundo bloguístico que tanto deixa saudades... E lógico, tinha que passar por aqui, afinal visitar os amigos é fundamental! E já me deparo com mais um relato maravilhoso das suas viagens ao lado de sua esposa! Eu ainda pretendo fazer muito isso qdo puder!
Bjos

Natália Eleutério disse...

Olá Gilbamar, gostei do post e de como descreves tudo ao pormenor, foram umas peripécias atrás das outras mas no fim tudo correu bem para vocês, folgo em saber que está tudo bem, abraço aos dois pombinhos, bom fim de semana.

Unknown disse...

cuántas aventuras han pasado!!!!
pero salieron gloriosos............
gracias por compartir.
un abrazo

Gina disse...

Que aventura, hein!
Minha filha levou o cartão cash passport, é melhor.
Tive que rir com: "e foi, a danada!" Essa expressão é tão nordestina e remete às minhas origens... rsrs!

Anônimo disse...

Olá, Gilbamar!

Primeiramente, obrigada pelo comentário no meu blog. Palavras sábias.

Bela viagem a de vocês. Espero um dia também concretizar meu sonho de conhecer o velho mundo. Que proeza!

abraços,
Marli.

Fragmentos de Elliana Alves disse...

Bom viajar rsrsss
amei teu texto
Bjssssssssssss e felicidades
sempre...
Bom fds p vcs queridos.

Papoila disse...

Gilbamar:
Que bem descritas todas as emoções da preparação de uma viagem que muito se deseja realizar. Fico à espera da crónica e das emoções da viagem.
Beijos

Joice Worm disse...

E o pior é que não deu para vir me ver... Ai, ai... Agora tenho eu que ter a sorte de conseguir passar aí! Heehe...
Graças a Deus que a viagem lhe proporcionou mais uma história de vida, Gil. Bem haja!
(Um beijo ao casal mais fofo da face da Terra!)

Myriam disse...

me alegro muchismo de que hayan disfrutado tu y ty mjer de este viaje taaaan lindo a Europa!!!!!

Felicidades y cariños

Ângelo disse...

Fantástico, Gilbamar.

espero um dia podes postar uma epopéia como essa sua com o mesmo destino. A Europa é um paraíso cultural e berço de diversos movimentos artísticos.

Aguarde que postarei algum dia a minha ida ao "velho mundo".

Gostei dos textos, passarei a seguí-lo.

Grande abraço

Delícias e Talentos disse...

Puxa, 7h30m de viagem é muito! Ainda não fiz uma viagem tão longa, acho que ficava colada no assento do avião! hehehe :)
São experiências inesquecíveis e únicas que se vivem antes, durante e depois da viagem...porque nesta vida nada se repete! :)

Café da Madrugada® Lipp & Van. disse...

Quanta dificuldade né? Mas quando se aproveita de verdade uma coisa como essa, e ainda, acompanhado por quem se ama...e é amado, é maravilhoso!

Booom, nao sei se estou voltando ao blog ativamente, mas adorei visitar aqui e comentar...

Vanessa.
Café da Madrugada.

cristinasiqueira disse...

oi Gilbamar,

Gostei de ler o seu relato de viagem apesar dos transtornos sinalizados.Viajar é literatura pronta igual a pão quentinho recém saído do forno da padaria.Sensações da novidade,enxergar as surpresas com olhos de bebê.Esticar o beijo para marcar o instante.Capturar magia com a máquina fotográfica.E depois conversa,muita conversa para aquecer a vida e se enternecer com as lembranças.
Gostei de sua passagem pelo meu blogue.

Com carinho,

Cris