quarta-feira, 22 de abril de 2009

VISITA AO PALÁCIO DA PENA

Sintra é uma cidadezinha de Portugal cheia de charme e atrativos, onde delícias da culinária como os "travesseiros da Periquita" e as "queijadas de Sintra", conhecidas em todo o mundo, fazem a festa gastronômica dos turistas e visitantes em geral. À parte essa característica peculiar, que leva tanta gente a não deixar a cidade sem antes degustar as citadas guloseimas deliciosas, quase como se fossem parte de um ritual importante, algo mais voltado ao prazer do espírito e da alma atrai multidões o ano todo: os castelos e os palácios recheados de histórias e fantasias. Dentre estes destaca-se, em magnitude e imponência, o Palácio da Pena.

Evidentemente, constava de nossos planos de viagem a Portugal conhecer o famoso Palácio da Pena, pois, afirmavam todos, seria um passeio imprescindível para quem vai àquele lindo País. Já tínhamos lido bastante e visto fotos dele na internet, sabíamos muito a respeito e faltava, agora, vê-lo e tocá-lo. A idéia inicial tinha por base o aluguel de um carro para tornar o passeio até Sintra mais confortável e tranquilo. Infelizmente, porém, para dirigir por aquelas bandas eu precisaria portar carteira internacional de motorista, e as providências para obtê-la demorariam além do tempo que eu tinha antes de viajar. Como chegamos a Lisboa no sábado, dia 04/04/09, eu e minha esposa achamos por bem ir a Sintra no dia seguinte juntamente com o grupo de Natal que viajou conosco. Fizemos as reservas no ônibus da empresa ao entardecer daquele dia, tão-logo voltamos do city tour. Mas, no horário da saída, domingo, fomos avisados que o passeio tinha sido cancelado e não haveria mais o trajeto até o Palácio da Pena. Ficou tudo sem explicação plausível apesar das reclamações dos circunstantes. A decepção, claro, foi geral. E agora, como faríamos, então, para seguir o roteiro de passeios até o Palácio da Pena? Não poderíamos regressar ao Brasil sem visitá-lo, isso estava totalmente fora de cogitação. Fomos correndo atrás do prejuízo.

A recepção do hotel informou-nos que se desejávamos tanto conhecer Sintra e visitar as maravilhas de seus palácios e castelos, havia um ótimo meio de transporte ligando Lisboa àquela cidade, o comboio, saindo diariamente, de vinte em vinte minutos. Mostrava-se uma ótima opção, afirmou, e faríamos uma viagem rápida, segura e a preço bem convidativo. E nos passou todas as instruções para não haver equívocos, detalhando inclusive os pontos de referência num mapa do País.

O sistema metroviário de Lisboa é um dos mais perfeitos e funcionais de todos os que já conheci, se bem sejam poucos, em minhas viagens. Monumental e seguro, com o que há de melhor em tecnologia na área, apto para transportar centenas de pessoas para os pontos mais importantes da cidade e com uma rapidez impressionante, o Metro, como os lisboetas chamam, funciona tal qual um relógio suíço. Aliado a esse conveniente meio de transporte eficiente, as linhas de auto-carros, bondinhos e elétricos fazem do transporte urbano de lá, caso o turista não esteja num carro alugado ou não encontre táxi com a rapidez que deseja, a melhor maneira de cumprir seus compromissos em cima da hora.

Primeiro apanhamos um elétrico e fomos para estação Cais Sodré, onde entramos no sensacional universo metroviário de Lisboa. Fiquei muito admirado com a magnitude do local, mesmo já tendo testemunhado a modernidade da Capital portuguesa por todos os lugares onde passei. Lá, mesmo penetrando num mundo desconhecido onde centenas de pessoas com pressa corriam para o trabalho, tomamos o metrô que seguiria para a estação Restauração, desceríamos e, daí, no mesmo local mas do outro lado, tornaríamos a entrar no metrô cujo destino era a estação Jardim Zoológico. Seria aí, então, onde embarcaríamos no comboio que fazia o trajeto para Sintra de vinte em vinte minutos. Um inesperado problema causado por informação truncada nos fez perder vinte e cinco minutos preciosos. O comboio com destino a Sintra partiria da estação Restauração, não daquela aonde chegamos em pouco tempo. O remédio era voltar por outra linha do metrô, e para isso teríamos de fazer novamente a volta até o outro lado, subir e descer escadas além de percorrer um longo corredor até encontrarmos a linha a ser apanhada. Sim, e tornar a validar o cartão em um das dezenas de entradas do metrô. Assim fizemos, que remédio! Apesar detudo, em pouco tempo estávamos regressamos à estação Restauração e logo saltamos desabalados a fim de pegar o primeiro comboio que estivesse para partir. Não chegamos a tempo para isso, porém. O comboio lá estava mas já prestes a seguir para Sintra, ninguém mais podia embarcar. Foi preciso esperar mais vinte minutos pelo próximo. Decorrido o quê, enfim seguimos viagem. Quanta dificuldade enfrentamos, bem se vê, todavia nada que não tivesse vindo para enriquecer-nos como seres humanos e aprendermos mais sobre a batalha da vida! São essas pequenas e interessantes experiências de nossa existência que nos deixam entrever tantas verdades sobre nós mesmos como também a respeito dos nossos semelhantes, tornando mais ameno o refletir acerca do quanto é efêmero e tênue tudo que nos rodeia.

Aprendi com a vivência a gostar da companhia de outros seres humanos e de ver estampado em seus rostos curtidos pela rotina cotidiana as marcas do tempo, da vida, dos sorrisos, das vicissitudes, do sofrimento e da felicidade. Penso ser impossível conhecer a alma das pessoas de outros Estados brasileiros ou de lugares diferentes em países estranhos se não compartilhar com elas um pouco de seu suor, riso e lágrimas. No metrô acompanhei o povo trabalhador, lado a lado, homens e mulheres, do menor ao mais alto escalão, bem vestido com seus trajes de grife ou modestamente trajado na simplicidade de suas condições, vivenciando o dia-a-dia de Lisboa. No meio deles, perscrutando suas expressões, vi-lhes o coração e a alma no mais forte pulsar. E no comboio igualmente. Aprendi mais sobre Portugal nos elétricos, no metrô e no comboio indo e vindo de Sintra do que participando do city tour e visitando os tradicionais pontos de turismo da capital.

Havia grande agenda a ser cumprida em Sintra, eu e Ana queríamos realmente obedecer todo o roteiro por nós traçado antes mesmo de pisar as terras lusas. Era questão de honra e vontade não retirar nem mesmo uma vírgula do compromisso assumido conosco mesmo. Um porém, no entanto, nos impulsionava mais ainda a não perder tempo em nenhuma ocasião: a amiga Lisa, do blog Momentos Meus, residente em Lisboa, a quem não conhecíamos pessoalmente, iria encontrar-se conosco no hotel por volta das dezoito horas. No dia anterior, o domingo, conversamos com ela por telefone e ficamos de nos encontrar no Shopping Colombo, mas o desencontro ocorreu e não foi possível. Depois de muita procura mútua(o shopping é gigantesco, um dos maiores da Europa, dizem) e, enfim, a desistência da amiga quando a hora avançou, tivemos a felicidade de conversar com ela por telefone e marcamos o encontro no hotel para o dia seguinte. Isto é, no exato dia de nosso passeio a Sintra. Urgia, por isso, ganhar tempo o máximo possível. Abraçar a amiga especial Isa, uma de nossas prioridades na viagem, e visitar o Palácio da Pena, rota de todos os turistas que vão a Portugal, se faziam dois compromissos importantes e imprescindíveis.

Passava das nove horas da manhã(cinco horas no Brasil) quando descemos em Sintra. Na estação avistamos enorme fila, perguntamos de que se tratava, percebemos não fazer parte do nosso roteiro e saímos a passos rápidos perguntando aos transeuntes como fazer para ir ao Palácio da Pena. A poucos metros dali existia um ponto de ônibus turístico que levava os visitantes até lá, disseram. Apressamo-nos naquele rumo, onde já outro amontoado de turistas de vários países tentava formar mais fila à espera do tal ônibus. A mistura de vários idiomas falados ao mesmo tempo provocava-nos a cômica sensação de estarmos perdidos no interior da Torre de Babel. Japoneses, chineses, turcos, alemães, americanos, austríacos, italianos e brasileiros, entre outros tantos mais, falávamos ao mesmo tempo fazendo nos tímpanos uma apoteótica sopa de linguagens. Eles, como nós, optaram pelo bater forte do coração em meio à população local, pela novidade de perguntar e sentir emoções novas. Não poderiam estar, naquele momento, confortavelmente sentados em onibus fretados seguindo tranquilos para o palácio, sem atropelos nem perda de tempo? É claro que sim, mas preferiram se emocionar, sentir o bater forte e descompassado do coração, fotografando locais e ângulos que jamais seriam vistos por turistas acomodados. Podem ter certeza de que aqueles estrangeiros denotavam ser gente endinheirada do Primeiro Mundo. Contudo, estavam lá, em plena rua de Sintra, aguardando o coletivo como qualquer pessoa comum.

À chegade de um luxuoso e moderno ônibus, fomos entrando e pagando 4,50 euros cada(cerca de R$ 13,95) para ir até o Palácio da Pena e voltar. No interior do coletivo percebemos que ele era muito mais luxuoso e moderno do que pensávamos. Parecíamos estar dentro de um avião, tamanho o conforto sentido e a tecnologia exposta aos nossos olhos. Na mistura de idiomas, impossível de ser compreendido pelo motorista, o entendimento se fazia por mímica. Embarcados quantos cabiam para completar a lotação, saímos pelas ruas, vielas e becos de Sintra deixando a vista vagando por entre as imagens que iam passando à velocidade do ônibus. No caminho, avistamos muita gente indo de bicicleta(alugadas aos turistas) e a pé como se quisesse, nessas condições, fazer penitência ao enfrentar a árdua subida com enorme esforço físico.

Eu e Ana resolvemos ficar nas proximidades do Castelo dos Mouros, indo na direção de uma espécie de quiosque de razoáveis proporções onde, é evidente, já havia filas para a venda dos bilhetes de acesso ao Castelo. Conosco desceram outros turistas e depois o ônibus prosseguiu a caminho do Palácio da Pena, cerca de trezentos metros ladeira acima. Chovia fino naquele instente e havia chovido bastante antes deixando o asfalto molhado e escorregadio. A visita ao Castelo dos Mouros e ao Palácio da Pena, caso o interessado comprasse as duas entradas de uma vez, custava 13,00 euros(R$ 40,00 reais) por visitante; se resolvesse adquirir o bilhete separado ou quisesse conhecer somente um dos dois desembolsaria 11,00 euros( R$ 34,00 reais). Se bem nos arrependéssemos após "escalar" as simples ruínas sem muita graça do Castelo dos Mouros, que de interessante tinha somente sua altura incomum, de onde, malgrado isso, ganhamos uma vista muito bonita da cidade de Sintra e seus arredores, adquirimos o pacote completo.

Não existe praticamente nada para ver no Castelo dos Mouros, senão ruínas e escombros, dezenas e mais dezenas de degraus se desfazendo, subidas íngremes no barro seco, restos de nada e lembranças da história. Para chegar aos seus inúmeros recantos e desvãos, onde outrora havia aposentos por todos os lados, além disso, ainda é necessário ter um ótimo preparo físico, estar com o coração em dia e ter muita disposição para andar e andar bastante, sob pena de não atingir nem a metade do caminho. O ímpeto da caminhada, no entanto, vai despertando o turbilhão de adrenalina e nos torna capaz de seguir sempre na direção do ponto mais alto sem pensar nas consequencias físicas posteriores. Em alguns pontos, paramos tanto para respirar fundo como para apreciar as indescritíveis vistas com que nos deparávamos. E fotografar, perenizando o momento.

.......continua

12 comentários:

Anônimo disse...

Meu querido Amigo,adorei a narrativa. Há um problema na postagem,uma repetição,penso.
Habitualmente digo q.,nas Ruínas só
"ouço",no meu imaginário,as vozes dos Mouros e dos homens de D.Afonso
Henriques...
Sabem como digo coisas sérias,a
sorrir?!
Abraços de AMIZADE.
isa.

Cleo disse...

Olá Gilbamar. beleza de viagem. Uma quarta magnífica prá você.
Beijos
Cleo

Joice Worm disse...

Tenho uma foto saudosa com minha mãe baiana lá no Palácio da Pena. Não me canso de olhar. E o melhor, é que em cada uma das fotos há um esplendor de horizonte por trás, que nem parece o mesmo mundo de lá mais abaixo da colina. Lindo demais!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Gilbamar, obrigada por dividir conosco a tua viagem de maneira tão rica...
E fotografar é algo sublime!

Beijos e borboleteios

Natália Eleutério disse...

Gosto de vir cá, e deixar-me levar por tão linda descrição, até parece que sou eu que tou viajando, excelente narrativa, abração.

Val Du disse...

Grande texto, gostei muito.

Abraços

Anônimo disse...

Já descobri como fazer para poder
votar no seu blog.
Que bom!
Votar, porque acho justo e sinto.
Meu Amigo,você se importa q.,fazendo referência ao seu livro,ponha alguns versos seus e fale um pouquinho?
Abraço.
isa.

Lujo disse...

Querido Gilbamar,
Tus crónicas son apasionantes. Ayudas a ver la cotidianidad desde otro ángulo. Me enriqueces...
Hoy en mi ciudad es el día del libro, Sant Jordi. Por ese motivo quería regalarte una cita:

"El amor es una bella flor, pero hay que ir a buscarla al borde del precipicio"
Sthendal

Espero que sea de tu agrado...

Abrazos enormes para ti y TODA la familia.
Cuidate

SAM disse...

Estou adorando estas partilhas, Gilbamar!


Beijo

Je Vois La Vie en Vert disse...

São boas recordações que vais levar para lá do outro lado do oceaano, não é ?

beijinhos

Verdinha

Unknown disse...

que bonito viaje han hecho!!!!
y cuántos lugares conocieron, aquí estaré esperando saber como sigue............gracias por compartir.
un abrazo

Agulheta disse...

Gibalmar.Adorei a narrativa da viagem e vou esperando a continuação? Vejo que além de mais se divertiu com tudo em sua volta,e passaram momentos felizes,por aqui.
Beijinho de amizade para o casal.BFS