Preferi não ir ao cemitério, pois certamente haveria uma multidão se atropelando em meio à poeira e por entre os túmulos, na pressa de cumprir a obrigação religiosa de visitar no dia de finados o parente falecido. Por outro lado, os nosocômios sempre me passam um melancólico ar de depressão sufocante em qualquer época do ano, então, inapeláveis, me vem aqueles revoltosos pensamentos a respeito da finitude de todos os humanos e o temor do desconhecido. Definitivamente morrer não é meu forte, prefiro os sorrisos vivos ao silêncio respeitoso dos que já partiram para a eternidade. Por isso, resolvi ler um pouco após o desjejum enquanto matutava sobre o que fazer a seguir.
Como não consegui me concentrar na leitura imaginando que um dia inteiro sem ter o que fazer merece algo mais do que ficar manuseando folhas e mais folhas entulhadas de letras pequenas, resolvi ir à praia curtir sol, mar e mulheres bonitas. Só não imaginei quantas pessoas também haviam pensado e decidido o mesmo. E descobri isso da maneira mais difícil.
Quase não encontrei lugar para estacionar, ainda que a mais de duzentos metros da orla. Cada milímetro quadrado em derredor estava absolutamente tomado por automóveis sob o olhar arrogante dos flanelinhas apontando, correndo, anotando placas e fiscalizando. Por ser averso a eles, estacionei o mais longe possível da confusão reinante e do alcance dessa praga que assolou nosso País sem direito a qualquer tipo de solução. Já vestido a caráter, óculos escuros protegendo os olhos e munido de protetor solar, arrisquei contornar o vai-e-vem dos carros até descer uma imensa escadaria e, por fim alcançar a areia quente beijada de vez em quando pelas ondas mansas.
Pela quantidade de automóveis eu deveria deduzir que o espaço praiano decerto estaria lotado, mas não esperava tanto. Ao lado do mar de água salgada um mar de gente disputando cada fragmento arenoso, cada pedaço de terra. Pior, inúmeros cães trazidos por impensados e inconsequentes donos transitavam e sujavam a praia com seus dejeto, sob o olhar complacente de homens e mulheres sorridentes. Tão logo adentrei o concorrido local, inadvertido, porque buscando um ponto suficiente onde pudesse me alojar, pisei em excremento canino recém descarregado. Praguejei, furioso e lambuzado. No momento em que tentava desvencilhar-me do dejeto várias crianças passaram em disparada e quase me derrubaram. Foi por muito pouco. Um homem gordo espirrou praticamente em meu rosto, alguém jogou aos meus pés sobejos de cerveja. É, o dia realmente não prometia. Corri dali assustado sem ver a bola de frescobol zunindo em minha direção e acertando-me a face. Antes de recuperar-me do verdadeiro ataque dos vândalos ,dois vendedores de sorvete me surpreenderam em sua correria para atender algum cliente e por muito pouco não me atropelaram. Após isso, como que voei em busca da água, sendo barrado por duas senhoras maduras de biquini e pelancas expostas, por dez marmanjos jogando futebol, por sete gatinhas rebolando suas curvas e pelo solavanco de quatro senhores idosos e barrigudos. Quando, por fim, cheguei ao meu destino uma inesperada onda súbita me derrubou e puxou-me o calção, quase a deixar-me despido.
Foi então que, desesperado com tanta aflição, percebi que teria sido de muito melhor alvitre ter ido ao cemitério e desfrutar do sossego dos mortos. Lá, pelo menos, não sofreria essa leva de atentados à minha integridade física. De maneira que, sem pensar duas vezes, saí em disparada daquele caos desumano, derrubei dois cachorros que se fuçavam e uma mesinha entupida de copos e garrafas, guardada por uma menina atemorizada ante meu rompante, fui afastando as pessoas da minha frente sob mil pedidos de desculpas esfarrapadas e subi as escadarias aos pulos, sem parar enquanto não acheguei-me à segurança do meu carro no longínquo lugar onde o deixei. Molhado mesmo, o pé direito ainda com resquícios de excremento canino, afastei-me o mais rápido possível dali, fui para minha casa, tomei um demorado banho, vesti minha melhor roupa, apanhei de sobre a estante um exemplar de salmos e me encaminhei todo compungido para o cemitério. Ali, sozinho, meditando sentado sobre o suntuoso túmulo de um ricaço falecido, esperei o dia terminar na esperança de que nada mais de ruim me tornasse a acontecer. Ao por do sol e somente depois que todos já tinham ido embora após rezar e deixar flores para os parentes adormecidos, respirei aliviado por ver a noite se aproximando e tratei de ir para casa. O dia de finados finalmente acabara, ufa!
Como não consegui me concentrar na leitura imaginando que um dia inteiro sem ter o que fazer merece algo mais do que ficar manuseando folhas e mais folhas entulhadas de letras pequenas, resolvi ir à praia curtir sol, mar e mulheres bonitas. Só não imaginei quantas pessoas também haviam pensado e decidido o mesmo. E descobri isso da maneira mais difícil.
Quase não encontrei lugar para estacionar, ainda que a mais de duzentos metros da orla. Cada milímetro quadrado em derredor estava absolutamente tomado por automóveis sob o olhar arrogante dos flanelinhas apontando, correndo, anotando placas e fiscalizando. Por ser averso a eles, estacionei o mais longe possível da confusão reinante e do alcance dessa praga que assolou nosso País sem direito a qualquer tipo de solução. Já vestido a caráter, óculos escuros protegendo os olhos e munido de protetor solar, arrisquei contornar o vai-e-vem dos carros até descer uma imensa escadaria e, por fim alcançar a areia quente beijada de vez em quando pelas ondas mansas.
Pela quantidade de automóveis eu deveria deduzir que o espaço praiano decerto estaria lotado, mas não esperava tanto. Ao lado do mar de água salgada um mar de gente disputando cada fragmento arenoso, cada pedaço de terra. Pior, inúmeros cães trazidos por impensados e inconsequentes donos transitavam e sujavam a praia com seus dejeto, sob o olhar complacente de homens e mulheres sorridentes. Tão logo adentrei o concorrido local, inadvertido, porque buscando um ponto suficiente onde pudesse me alojar, pisei em excremento canino recém descarregado. Praguejei, furioso e lambuzado. No momento em que tentava desvencilhar-me do dejeto várias crianças passaram em disparada e quase me derrubaram. Foi por muito pouco. Um homem gordo espirrou praticamente em meu rosto, alguém jogou aos meus pés sobejos de cerveja. É, o dia realmente não prometia. Corri dali assustado sem ver a bola de frescobol zunindo em minha direção e acertando-me a face. Antes de recuperar-me do verdadeiro ataque dos vândalos ,dois vendedores de sorvete me surpreenderam em sua correria para atender algum cliente e por muito pouco não me atropelaram. Após isso, como que voei em busca da água, sendo barrado por duas senhoras maduras de biquini e pelancas expostas, por dez marmanjos jogando futebol, por sete gatinhas rebolando suas curvas e pelo solavanco de quatro senhores idosos e barrigudos. Quando, por fim, cheguei ao meu destino uma inesperada onda súbita me derrubou e puxou-me o calção, quase a deixar-me despido.
Foi então que, desesperado com tanta aflição, percebi que teria sido de muito melhor alvitre ter ido ao cemitério e desfrutar do sossego dos mortos. Lá, pelo menos, não sofreria essa leva de atentados à minha integridade física. De maneira que, sem pensar duas vezes, saí em disparada daquele caos desumano, derrubei dois cachorros que se fuçavam e uma mesinha entupida de copos e garrafas, guardada por uma menina atemorizada ante meu rompante, fui afastando as pessoas da minha frente sob mil pedidos de desculpas esfarrapadas e subi as escadarias aos pulos, sem parar enquanto não acheguei-me à segurança do meu carro no longínquo lugar onde o deixei. Molhado mesmo, o pé direito ainda com resquícios de excremento canino, afastei-me o mais rápido possível dali, fui para minha casa, tomei um demorado banho, vesti minha melhor roupa, apanhei de sobre a estante um exemplar de salmos e me encaminhei todo compungido para o cemitério. Ali, sozinho, meditando sentado sobre o suntuoso túmulo de um ricaço falecido, esperei o dia terminar na esperança de que nada mais de ruim me tornasse a acontecer. Ao por do sol e somente depois que todos já tinham ido embora após rezar e deixar flores para os parentes adormecidos, respirei aliviado por ver a noite se aproximando e tratei de ir para casa. O dia de finados finalmente acabara, ufa!
Um comentário:
Querido amigo, esses feriados prolongados são complicados, chego a conclusão que é melhor ficar em casa. Beijocas
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