quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL


Todos sabemos da lerdeza e da indiferença de alguns serviços públicos em nosso País e o quanto o mau atendimento aos contribuintes irrita, desconforta e nos aborrece. Uma coisa, contudo, é estar a par disso por ouvir dizer ou por mera teoria, outra é sentir realmente na pele os traumas decorrentes do estresse causado por esse péssimo atendimento na prática em nossa vida. Eu passei por isso ontem e hoje - e ainda preciso voltar na próxima terça-feira para completar um serviço que necessitei, mas não foi completado, simplesmente renovar minha Carteira de Habilitação.


De pronto, ao chegar ao local já encontrei uma verdadeira multidão se acotovelando na pequena salinha onde alguns mal-humorados atendentes nos olhavam como se quisessem lançar dardos venenosos dos seus olhos estressados. Assustei-me, é lógico, pois não esperava ver tanta gente necessitando de algum documento no âmbito do Detran, nem tão poucos funcionários emburrados se achando. Porque quase sempre é assim no serviço público, os serventuários acreditam piamente que estão nos prestando um inestimável favor quando nos atendem, fazem muxoxos, levantam, conversam entre si, atendem às chamadas dos celulares e nos deixam esperando plantados em pé ou nas poucas cadeiras como se fôssemos estátuas às quais ficassem indiferentes. E a morosidade? O tempo passa devagar, o atendimento é precário, as pessoas reclamam e tudo segue sem qualquer mudança no correr dos anos.


Não sei quantas horas esperei, quantas pessoas vi se lamentando, gente chegando, idosos, mulheres grávidas e/ou carregando crianças nos braços, doentes prioritários, suores, odores, sede, fome, necessidades fisiológicas. Diversas vezes vi e escutei um dos funcionários se levantar subitamente e gritar em alto e bom som: "não vou mais atender, não atendo mais enquanto isso não ficar organizado!" Levantou-se da cadeira e saiu desabalado na direção da porta ao lado, terminando por dizer: "vou chamar a gerente para resolver isso!" E se foi. Ele se aborrecera porque idosos, gestantes e pessoas com crianças reclamavam por não serem atendidos logo.


Foi um dos piores dias de minha vida. Esperei, estressei-me, assisti às reclamações populares, aos olhares desolados dos usuários, aos bocejos, às pessoas que enganavam o tempo fechando os olhos, ao enfado de alguns funcionários, às horas que insistiam em não passar. O número de minha ficha estava a quilômetros dos à minha frente, permanecer ali à espera irritava, incomodava, enervava. Não enxerguei um só sorriso nos rostos dos presentes, somente tristeza, suspiros, balançar de cabeças, olhares sôfregos aos painéis de chamada, o vai e vem dos impacientes - todos nós, aliás. 


De tão deveras desencantado com tudo aquilo fiquei sem inspiração para escrever a respeito, tudo se perdeu, o desabafo do funcionário foi a única coisa que achei por bem transcrever, a melancolia dos usuários tornou-se o quadro mais recorrente em meu cérebro, a demora em ser atendido transformou-se na ponta de uma agulha perfurando-me o corpo de instante a instante. Quando, por fim, fui chamado, inclusive justamente por aquele serventuário do desabafo, ele ironizou com um sorriso zombeteiro: " você vai ter que voltar amanhã para capturar a foto e fazer o exame de vista. Não sabe o tamanho da fila que o espera."

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