sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A VIDA É UM SHOW DE ROCK

Hoje quero balbuciar abraços, sussurrar beijos, assobiar poesias, tartamudear minhas mais salientes emoções, fingir que sou feliz, cantar baixinho para mim mesmo as músicas mais românticas, dizer de meus desejos loucos que não podem ser expressos senão em ocasiões inoportunas. Tenho necessidade, hoje, de rasgar minhas mágoas, espantar para bem longe a melancolia, derramar rios de lágrimas, falar à toa coisas sem qualquer sentido, jogar pedras na lua, apagar o sol ao entardecer quando ele estiver se pondo e desenhar estrelas a noite inteira. Anseio riscar o céu e deixá-lo cinzento de nuvens carregados com chuva tempestuosas de desabafos amorosos, escarnecer dos orgulhosos, pintar o maior sete do mundo nos horizontes mais serenos.


Vou atabalhoadamente desenhar sorrisos nos rostos sisudos para que suavizem, distribuir doçura por todas as esquinas tristes, compartilhar meus melhores bemquereres, desiludir a tristeza e imediatamente jogá-la no caudaloso rio da amargura, vê-la desaparecendo nas profundezas do esquecimento me fará enorme bem, decidadamente. Que passem longe de mim os insensíveis e se fundam em estátuas silenciosas, para mim as ruas devem estar cheias de indivíduos transtornados de tanta alegria, de desvairados pelas transformações mágicas dos risos esplendorosos. Abracem-me quantos não me conhecem, demos ao mundo soturno o exemplo de deslumbrante solidariedade repentina, vamos todos sorrir juntos, em uníssono, a vida não pode nunca, jamais, passar em branco, não haverá de findar sem um último êxtase.


Abramos as janelas de nossas almas acabrunhadas e brinquemos de esconde-esconde com a felicidade, joguemos futebol de poeira ao lado da fraternidade deixando-a fazer todos os gols, milhões deles, para intensamente garantir a vitória da vida, esse estonteante momento que tanto pode ser um baile de amor quanto uma ardorosa festa de rock. Fora com as saudades que só deixam mágoas, longe de nós as inúmeras lembranças tristes capazes de apagar nossos sorrisos. Nosso quinhão de alegria está ali, bem ali nas praças engalanadas pelos gemidos dos enamorados ao cair da noite, nas nuvens formando desenhos que embelezam o firmamento, nas folhas farfalhando barulhentas nas copas das árvores frutíferas, nos jardins beijados por beija-flores, na chuva caindo de mansinho e engravidando a terra.

                           Gilbamar de Oliveira Bezerra

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