domingo, 20 de janeiro de 2013

CRÔNICAS DA EUROPA 2




Começaram hoje os festejos natalinos em Malmo. Fomos ver as feirinhas espalhadas numa das praças da cidade. Anoiteceu muito cedo, então quando saímos já as luzes dos postes estavam acesas iluminando a escuridão prematura. Uma multidão se arrastava para lá e para cá em meio às barracas onde se vendia de quase tudo, desde cachorro-quente (hot dog) com salsicha, chocolate quente e gelado, flores, enfeites de Natal, roupas, bijuterias, artesanato, até comida chinesa, café com leite e dezenas de outros itens que fazem a festa gastronômica dos suecos. As lojas, cafeterias, bares e outros estabelecimentos comerciais também se achavam de portas abertas ao público. Um fato interessante chamou minha atenção, como das outras vezes em que vimos a esse lugar a passeio: aqui e ali, em vários lugares e pontos estratégicos havia fogo e velas acesas para esquentar os transeuntes, visto que o frio congelava o ar.

                                       

Foi quando, de repente, ouvimos uma gritaria oriunda de grande multidão vindo em nossa direção. Eu imaginei, na hora, que se tratasse de alguns grupos entoando canções ou apresentando desfile de alguma espécie de folclore natalino. Nada disso, tratava-se de manifestação dos palestinos locais contra Israel, onde havia crianças, mulheres e homens novos e velhos, todos gritando contra Israel. Um carro da polícia ia à frente, outro, atrás. Muita gente fotografava e filmava o movimento, eu e Ana também fizemos isso enquanto a turma da gritaria se esgoelava furiosa no seu protesto.

                                          

Depois que os manifestantes se foram desaparecendo em alguma esquina adiante, tudo voltou ao normal, as pessoas retomaram seu passeio pelas ruas e o sorriso retornou aos lábios dos que conversavam. Um casal de jovens, ambos com uma placa nas costas em sueco, claro, distribuía mapa de Malmo aos turistas, já um senhor solitário tocava violão e cantava músicas estranhas aos meus ouvidos, o chapéu de boca aberta para cima esperando donativos de quem apreciasse sua arte. Estranhei muito esse tipo de acontecimento na Suécia, porém ainda mais chocado fiquei quando enxerguei um pobre-coitado sueco apoiado numa bengala e pedindo esmola. Fotografei-o sem querer acreditar que isso fosse realmente verdade, jamais imaginei encontrar mendigos num país tão desenvolvido, riquíssimo e de primeiro mundo como esse onde estamos. Recordo agora que antes de ontem eu já tinha visto outro mendigo sentado no batente duma loja segurando uma placa com frase em sueco, certamente também esmolando, pois seu chapéu igualmente se encontrava aberto no chão à espera de ajuda. Dupla perplexidade para mim. Vejo agora que a perfeição não existe onde há seres humanos, há sempre falhas em seus gestos e atitudes. Olhei para uma rica cafeteria, onde os preços são estratosféricos e me senti envergonhado, porque apesar de serem caros seus preços ela estava cheia, os usuários comendo à farta bem em frente ao mendigo que esmolava.

                                          

A temperatura caiu ainda mais e a sensação térmica causava desconforto quando resolvemos voltar para o apartamento. Como não chovia e não era muito longe, fomos a pé apreciando a paisagem noturna pelo caminho.

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