quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

MUNDO DOIDÃO - V
Mas aquilo não foi nada
Comparado ao que senti
Ao perceber que um cego
Me assaltou e eu nem vi
E lá se foi ele correndo
Como se estivesse me vendo
Mas eu sem ver quase caí

Ainda tentei seguir o cego
Em meio ao trânsito louco
Mas ele saracoteava
E bufava feito um porco
De tanto atrás dele correr
Fiquei sem poder nem ver
Não ceguei por muito pouco

Foi muito pior quando ouvi
O galo lendo uma carta
A raposa arrotando doce
Numa mesa muito farta
E um pato cantando rouco
Num quá quá quá muito louco
Para uma platéia parca

Já o bode apaixonou-se
Pela rosa do vizinho
Ficou doido feito gente
Desiludido e sozinho
Embora tentasse ganhar,
De modo a nunca largar,
A mulher do seu Julhinho

De cabeça para baixo
Gira o mundo tresloucado
Jacaré virou mocinha
Pelo lobo apaixonado
Que só anda de trancinha
Balançando a cabecinha
Com um peixe enrabichado

Aquele vaqueiro doido
Laçou a lua com a cobra
Deu um grito no dragão
Agarrado em sua dobra
e de lá fugiu correndo
Vendo uma velha comendo
Um prato de gororoba

Ta tudo uma doideira só
Entre o cabrito e o gambá
Eles já nem se falam mais
Querem o leite derramar
Ambos detestam ouvir
Como se gritando a parir
O filho do outro cantar

A aranha carrega um trem
Debaixo de um braço só
E uma formiga sozinha
Faz centenas de pão-de-ló
Mas nenhuma se compara
Aos beijos da arara
Num elefante de paletó

E como era antigamente
Alguém pode se lembrar?
Foi há tanto tempo atrás
Já passou, não vai voltar,
Contudo, por ilustração,
Afora a desilusão,
Até que é bom recordar

Nenhum comentário: