quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

PELAS MÃOS DA TERNURA

Praça da liberdade - Belo Horizonte MG(foto de Gilbamar)


O que aconteceu de tão terrível ao coração humano que já não se comove mais nem se sensibiliza com o aflorar das emoções? Por que uma flor em botão, nesses últimos tempos de indiferença e medo insano, raramente desperta em alguém aquele instante mágico de embevecimento e paz? Pergunto-me se não deveríamos lamentar ao invés de gargalhar diante de tanta injustiça entre os homens, se não é tempo de corar de vergonha quando tomamos conhecimento das fraudes e roubalheiras perpetradas por nossos representantes em Brasília, se não é o agora para bradar nossa indignação absoluta por causa disso e de inúmeros outros escândalos protagonizados pelos funcionários públicos mais bem pagos do mundo. Nós decerto não choramos o suficiente nem nos indignamos com a frequência necessária que transforma e desperta a consciência, como se tivéssemos perdido a capacidade de nos horrorizarmos com a sordidez. Tenho por mim que desconhecemos a força e o poder de nossa indignação e permitimos rumos adversos na nossa trajetória. Quem está a conduzir o timão de nossa sociedade, nos parece, como que desorientou-se, meteu os pés pelas mãos, afundou-se no pântano da incerteza e dos conluios à socapa. Grandes desconfortos em nossos pensamentos nos remetem para os primórdios do pânico, o caos, não tão ao longe, dá a impressão de nos aguardar bem alí na próxima esquina. O que houve, então, com a pureza do nosso coração? Não é inerente ao nosso caráter esquecer os olhares famintos dos miseráveis nem o pedinte idoso e enfermo obrigado a permanecer horas a fio sob a inclemência do sol na tentativa de, abaixo da linha da miséria, ao menos, buscar uma nesga de sobrevivência que só lhe trará dor e sofrimento. Sinto que fonte do amor envelheceu, despetalou, perdeu força e desaba rumo à inércia total. Há crianças abandonadas mendigando migalhas de pão ou cometendo pequenos furtos nas cidades grandes e adolescentes praticando assaltos e assassinando seus semelhantes, protegidos pela couraça "providencial" da menoridade. Os nossos velhinhos, então, sujeitos à caridade de alguns, vivem a aposentadoria da morte por causa da parca pensão que zomba de seus muitos anos dedicados ao País. Em que recanto escuro de nossa insensibilidade escondemos o bem querer e o lirismo? Resta um simulacro de esperança, contudo, e ela está nas mãos de uns poucos homens enternecidos, os poetas. Os poetas, da coerência de seus sonhos e devaneios, são dos poucos ainda guiados pelo cajado da ternura, e eles, sim, eles sabem onde encontrar o que ainda resta da pureza dos corações. Viajando em seus versos a lembrar maviosos gorgeios, de braços dados com a fascinação e a beleza, eles nos mostram ser possível fazer brotar a metamorfose do bem estar coletivo e nos trazem de volta a gostosa sensação de que viver pode-se tornar uma temporada mágica e divertida.

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