quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

ASSIM É A VIDA? - Parte I

Dominado por forte emoção,
as mãos trêmulas ao escrever,
faço agora um triste relato
dum fatoque viacontecer
bem aqui no meu Estado
algo de completo estarrecer

Eu explico, não se avexe,
tenha calma, faz favor,
é que ainda estou atônito
o caso é de extremo horror
pois envolve defesa da honra,
família, bandido, Justiça e desamor

Jonas, vamos chamá-lo assim,
pacato e cumpridor do seu deveres,
não era chegado a badalações
;cuidava só da família e seus haveres
vivendo para o trabalho e a família,
homem dado a poucos lazeres

Honesto no seu comércio,
ganhando o suficiente para viver
de modo digno com seus amados
jamais poderia antever
que uma grande reviravolta
na vida iria acontecer

Nos fins de semana,
feliz,após trabalho estafante,
saía com a família a passear
nada impensado ou de rompante
ia para o sítio lá no campo,
enfim, tinha vida triunfante

Essas coisas assim tão simples
parecem causar inveja ao destino
Quando pensamos estar tudo calmo
eis que, súbito, vem um desatino
desses realmente inesperados,
a vida balança num fio tênue e fino

Ainda antes de prosseguir
narrando o fato impressionante,
preciso falar um pouco do oposto,
a pequenina nota dissonante
pivô do drama em andamento,
espécie, digamos, de ave rapinante

Refiro-me a Zequinha, só um nome,
sujeito vagabundo e arruaceiro,
daqueles que nada querem da vida
e fazem qualquer coisa por dinheiro,
um pária dentro da sociedade
briguento, mal e arruaceiro

A vida dele era perambular
por aí à toa pensativo,
procurando um jeito de ganhar
alguma grana mesmo inativo
pois nenhum trabalho ele queria,
nada fazia de bom ou construtivo

Esse safado do Zequinha
Num domingo, ao entardecer,
Meio cabreiro, mas, decidido,
Não tendo mais o que fazer
Resolveu tentar um lance
E muita gente iria sofrer

É que alguém da mesma laia
Sussurrou no seu ouvido
Um trampo muito fácil
P’ra tão esperto bandido
Coisa rápida e com grana
Ele seria bem servido

E Zequinha, cabra nojento,
Viu a grande oportunidade
De se sair bem no feito
Pois tinha capacidade
De resolver o tal lance
E encheu-se de vontade

Armou-se p’ra empreitada
Então..espere, ainda não,
Voltemos ao personagem
Homem bom de coração
Que se voltava à família
Cheio de amor e dedicação

Naquele fim de semana,
Como sempre Jonas fazia,
Foi com toda a família
Passar momentos de alegria
Lá no sítio que ele tinha
Sempre em boa companhia

No sábado foi tudo bem
A vida seguiu normal
Só risos e brincadeiras
O tempo passava banal
Café, almoço e jantar
O cotidiano, etecetera e tal

Mas no domingo, de súbito,
Bem na hora do almoço,
Algo estranho aconteceu
Causando grande alvoroço
Pois enquanto eles sorriam
Viram à janela um moço

Mas não era qualquer um
Tratava-se de... ainda não
Vou novamente voltar
Ao Zequinha, o furacão,
O sobrenome é p’ra rimar
Aumentando a emoção

O safado estava disposto
A completar a asneira
De modo que, no domingo,
Armado com a peixeira
Seguiu rumo ao local
Onde faria a besteira

Não ficava muito longe
O palco de sua intriga
Talvez meio quilômetro
Tempo só de uma cantiga
Iria mesmo andando
Ali pela vereda amiga


Foi uma caminhada leve
Enquanto ele ia pensando
Como se daria a trama
Já todo riso e se babando
Seria como roubar pirulito
De um bêbado delirando

Lá estava a bela casa
Cercada por um jardim
Quatro janelas, uma porta,
Nauseabundo odor de jasmim
Não viu gato nem cachorro
Daria tudo bem “certim”

Olhou bem os arredores,
Calculou cada detalhe
E pensou consigo mesmo:
“Faça a coisa e não falhe
Com rapidez e disposição
E que nada atrapalhe”

Uma janela estava aberta
E até lá se deslocou
Para “cubar” o ambiente
A cara feia detonou
Estava começando a festa
Todos na sala, ele enxergou

Foi Ângela quem deu o grito
- A filhinha tão amada -
“Pai, um homem na janela!”
Iniciava-se a parada
Zequinha saltou o parapeito
Com a faca já puxada

“Quero todo mundo quieto
É um assalto, passe a grana!”
Nervoso gritou Zequinha
Parecendo uma taturana
Que se esconde e dá o bote
Atrás da cajarana

Jonas, homem da paz,
Contudo não bobalhão,
Praticava judô e karatê
Sua arma era a mão
Lutaria pela família
E brigaria com o coração

...continua

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