quinta-feira, 24 de julho de 2008

MEU VIZINHO, O POR-DO-SOL




O por-do-sol é meu frequente vizinho do entardecer. Da janela do meu apartamento, ali por volta das cinco horas e quinze minutos, avisto-o todo lânguido quando começa a espalhar suas cores pelo céu e enche o espaço com incomparável beleza natural, sem qualquer maquiagem. O azul celeste se torna, então, como num súbito passe de mágica, uma mistura de cores que o deixa multicolorido e belo. Fico extasiado sempre que presencio o espetáculo diariamente por ele proporcionado, mesmo já o tendo visto centena de vezes no mesmo lugar, embora de vários ângulos diferentes para não deixar de me encantar com todos os lados do fascinante quadro da natureza.
A visão que tenho é privilegiada, não me escapa nenhum detalhe de seus movimentos, e cá no meu coração os sentimentos se confundem, passando da alegria casual para a euforia repentina, da mera admiração confusa para um amor inexplicável a tanta beleza, e passo, por conseguinte, somente a maravilhar-me, a sentir-me em completa paz na qual descanso a mente e o corpo. Enquanto isso, no transe desse frenesi platônico, prossegue o espetáculo da natureza em seu esplendor. Como em movimentos sob-reptícios de bailarino, ou a guisa de um pincel invisível pincelando as nuvens com detalhes fascinantes, vai-se delineando no infinito aquela obra prima especial e rara de um inimitável mestre da pintura. A cena se exibe em câmara lenta com vistas a não escapar nenhum detalhe do raro encanto. É suficiente uma quase imperceptível contorção, basta aquele pequenino movimento do tempo ou dos próprios raios solares para o pôr-do-sol exibir-se todo orgulhoso e criativo.
Por vezes, o céu parece estar queimando quando o astro rei, esférico, bombástico, esplendoroso, mostrando intenso e vermelho brilho em amplo destaque, permite que os suaves contornos das ondas de calor dêem a impressão de existir incomensurável fogueira acesa no infinito. Mas isso em momento algum provoca temor, senão êxtase. O fogo, se realmente o fora, não dura o suficiente para queimar o espaço, mas tão-somente com o intuito de deslumbrar olhos e coração das insignificantes criaturas pequeninas cá da Terra tão carentes da terna doçura emanada de cenas que tais. Como eu e tantos outros cativos de sua beleza. Por instantes, em muitas tardes declinando no ocaso, sinto-me impelido a acenar um cumprimento ao pôr-do-sol e tantas vezes já o fiz embora tímido, tamanha é a emoção que me invade e envolve sempre. Mas ele, na indiferença de sua amplitude, esnoba-me todo lânguido e abusado. É ciente de sua magnitude e majestade, isso bem sei. E ante minha insignificância no universo de sua realeza como voltar-me a atenção? Milhões de encantados admiradores o apreciam e amam diariamente, o sol com o seu jogo de cores estonteantes está farto de tanto causar admiração e estupor e dos inúmeros olhares embevecidos ao entardecer.
Será mesmo assim? Talvez nem tanto. Pois se assim fora ele não ofereceria diariamente esses espetáculos de cativante esplendor que nos enchem os olhos de lágrimas perplexas se não desejasse platéia. O sol, ponderemos, é o pavão do céu.

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