sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA" - Resenha

 

Quando todos sabem da iminência de algo funesto na vida de alguém muito próximo e mesmo assim, apesar dos esforços nesse sentido, não conseguem avisar a tempo a possível vítima do enorme perigo mortal que ela corre uma insuportável angústia envenena suas almas e todos sofrem porque perderam a oportunidade de salvar uma vida. O mais absurdo se faz amargura quando a própria família daquele cuja morte foi amplamente anunciada pela cidade inteira, ela própria, não logra evitar o desfecho macabro. O livro Crônica de Uma Morte Anunciada apresenta esse enredo criativo e labiríntico de forma inteligente e policialesca, isto é, o personagem principal da trama, prestes a ser assassinado, vagueia pelas ruas da cidade e se depara com praticamente todos os inteirados sobre o que lhe vai acontecer, mas mesmo assim nunca se encontra frente a frente com eles para ser avisado e fugir. Há sempre algo impedindo o encontro pessoal, olhos nos olhos, embora haja um grande alvoroço de quantos de antemão sabem e correm desesperados ruas afora para avisá-lo. Simplesmente em vão. Até mesmo os dois assassinos desejam ansiosamente que sua inocente vítima seja informada para fugir e escapar da morte.

"No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5;30 da manhã", abre-se assim o enredo desenrolando-se o fio de Ariadne e o leitor já se surpreende tomando conhecimento dessa inacreditável certeza absoluta. E se angustia tanto quanto os demais personagens do drama na tentativa de alcançá-lo, com urgência, em algum lugar da cidade para deixá-lo a par dessa notícia funesta, com vistas a evitar sua morte, tão próxima, tão inevitável e tão concreta. Vem logo, de pronto, a pergunta inexorável: afinal de contas então, por que cargas d'agua  há dois homens ao mesmo tempo furiosos e dispostos a matar Santiago, mas também anelando evitar cometer o crime bárbaro, se possível, e no fundo do coração ansiosos para não avistá-lo em seu caminho?

Essa surpreendente obra de Gabriel Garcia Marquez é um verdadeiro marco na fórmula literária para enredar os leitores do início ao fim mesmo todos já sabendo que Santigo Nasar vai mesmo morrer sem dó nem piedade, fato inadiável e quase profético. Todavia o charme e o mote a prenderem a atenção estão muito além da morte anunciada, e se mostram justamente no miolo do enredo, em suas entrelinhas, nas razões desencandeadoras do desfecho aterrorizante. Ninguém vai deixar de lado a leitura de Crônica de uma Morte Anunciada por saber de antemão que Santiago Nasar vai realmente morrer. Pelo contrário, haverá de querer descobrir as razões para isso ocorrer. Em virtude de tamanho anseio, lerá o livro até a última página.

Um comentário:

ONG ALERTA disse...

Deve ser interessante, vou comprar para ler, obrigada Lisette.