segunda-feira, 22 de outubro de 2007

UM BURRO AÇOITANDO OUTRO - Parte II
O corado do seu rosto
Aumentou mil vezes cem
O cara ficou tão grande
Do tamanho de um trem
Se seus olhos fossem arcos
Atiravam flechas também

De sentado que estava
Pulou ficando de pé
Sobre o lixo da carroça
Esquentou que nem café
Coado numa cuia podre
Por sua leprosa mulher

O braço subiu bem alto
Tendo o chicote na mão
A boca suja gritava
Um monte de palavrão
O povo de longe olhava
Aquele cunhado do cão

O chicote subiu e desceu
E tantas vezes acertou
O burro todo batido
Que logo o sangue jorrou
Mas ainda assim o velho
A lhe açoitar continuou

O burrico estremecia
Cada vez que apanhava
O sofrimento foi tanto
Que ele já nem zurrava
Penso que não mais sentia
A surra bruta que levava

Eu tentei interferir
E acabar a crueldade
Bastava tanta vileza
Chegava tanta maldade
O burro é um grande amigo
De toda humanidade

O bárbaro não quis conversa
Uma baita faca sacou
E com seus olhos de fogo
Tão profundo me olhou
Dizendo palavras duras
Com as quais me ameaçou

- Não venha se meter a besta
No que não lhe diz respeito
Se vier até aqui
Meto-lhe a faca nos peito
E faço um buraco tão grande
Que nenhum médico dá jeito –

Como eu não sou de briga
Gosto de vida pacata
A espécie de cidadão
Que autoridade acata
Achei por bem ficar longe
Na distância mais exata

Nenhum comentário: