domingo, 25 de maio de 2008

LOS HERMANOS ARGENTINOS

Eu em frente à Catedral de Buenos Aires. (Foto: Ana Kaddja )


Os argentinos se orgulham de seus monumentos, das suas avenidas e ruas largas. Afirmam de olhos rútilo e pés juntos que o obelisco da Calle 9 de julho é o maior do mundo e asseguram que essa mesma avenida é a mais larga dos continentes. O pior, amigos, é que parece ser mesmo. De todos os obeliscos que conheço nenhum chega aos pés do deles, e quando atravessei a Libertador, outra avenida descomunal, no meu quarto dia de passeio por Buenos Aires, correndo desabalado para alcançar logo o outro lado antes que o sinal ficasse vermelho e a enxurrada de automóveis desembestasse no meu rumo, fiquei ciente de que é realmente de um tamanho inusitado. Como os demais que também atravessavam essa avenida, corri a quase ficar sem fôlego, em desespero mesmo, somente para comprovar o sufoco diário dos argentinos que precisam passar por lá. E apreciar logo depois o belíssimo Jardim Japonês, não sem antes atravessar uma imensa área verde tão grande em plena cidade que se ia a perder de vista. Nesse local vimos os famosos passeadores de cães, jovens encarregados por madames ricas de levar seus cachorros ao passeio diário, atividade/meio de ganhar uma graninha extra para o orçamento dos jovens desempregados. Eles levam consigo até quinze cães ou mais de diversas raças e todos vão lado a lado sem qualquer conflito, como que parecendo educados para esse mister. Mas já que falamos em grandes virtudes, que sejam também expostos os descomunais problemas: lá tem pobreza como aqui no Brasil, pedintes pelas ruas, violência, batedores de carteiras e, entre outros inconfessáveis pecados, é na Argentina que se encontra o segundo rio mais poluído do mundo, localizado justamente nas cercanias de Caminito, aquele bairro onde surgiu o time de futebol Boca Rica, oriundo de La Boca que vem a ser o próprio Caminito como um todo, perdendo apenas para o Rio Ganghes, na Índia. Aliás, quando visitamos Caminito fomos advertidos pela nossa guia do city tour para ter muito cuidado porque justamente naquele dia haveria um jogo de futebol entre o River Plate e o Boca Júniors, os dois maiores rivais do esporte bretão cujas torcidas promovem brigas espetaculares quando se defrontam. O bairro, inclusive, já estava dividido por policiais armados impedindo que torcedores de um time atravessassem para o lado dos torcedores do outro. Ah, e quando andamos por qualquer recanto da cidade de Buenos Aires temos sempre a esquisita sensação da constante e inolvidável presença de Carlos Gardel onde quer que estejamos. Suas fotos e bustos estão em quase todos os lugares da cidade. Eva Perón, então, é outra figura histórica argentina em destaque em todas as esquinas e até mesmo no cemitério da Recoleta onde seus restos mortais descansam, tendo este se tornado um ponto turístico bastante visitado por estrangeiros que são incentivados a isso antes mesmo de sair de seu país. Em La Boca, um boneco dela numa varanda da rua principal briga por atenção com as de Carlos Gardel e Maradona. Outro fato muito corriqueiro em Buenos Aires mas por demais esquisito para nós é ver os marmanjões se cumprimentando aos beijos tascados nas bochechas uns dos outros. Dá para pensar em dois bigodudos trocando beijocas(beijocas mesmo!) sociais na maior naturalidade? Pois os argentinos fazem isso nas ruas, nas praças, em seus trabalhos, em todos os lugares com simplicidade e naturalidade. Los hermanos também disputam com os uruguaios a prerrogativa do nascimento de Carlos Gardel, afirmando que ele efetivamente é argentino de nascimento. Mas quando fazíamos o city tour em Montevideo no dia seguinte depois de deixarmos Buenos Aires e fomos para aquela cidade, a nossa guia afirmou que o famoso cantor de tango, se bem digam até mesmo que viu a luz na França, nasceu realmente em uma cidadezinha do interior do Uruguai, explicando ela que a certidão de nascimento como comprovante está exposta num museu de lá, tendo sido somente aos quatro anos de idade que ele foi morar na Argentina com os pais. Imaginem só quanta babaquice por causa da origem de alguém. Mas, enfim, cada cultura tem suas especificações e tradições e, embora vistas com curiosidade por quantos a conhecem, devem obviamente ser respeitadas por quem não as cultua e está ali somente de passagem. Comentar, contudo, faz parte do conhecimento e da surprêsa, é sobremaneira natural.

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